quinta-feira, 6 de abril de 2017

Concílio por Afrodite

E no Olimpo acima dos céus,
Sentado no trono colunado,
Está o majestoso, imponente Zeus,
Glorioso ele, de rosto iluminado.
Olha outras divindades discutindo,
O que do fado querem fazer;
E dos outros! Estão dos outros decidindo
Como os seus rios vão correr.

Afrodite, esbelta e magna
Olha do alto os mortais míseros
E o seu olhar neles estagna.
Ao seu lado, sentado, está Eros,
A criança que mais amor criou,
O adulto que racionalistas iludiu
O adolescente que corações ligou
Ele, a loucura que sãos invadiu.

“Observa homem alado!
Olha o passeio citadino, invadido
E quase nu, de solidão povoado.
Tens lá almas com o coração despercebido!”
Disse Afrodite, receando invasões,
Que desnecessárias fossem aos seres;
Não queria o risco de malignas emoções
Nem tampouco exceder os seus poderes.

“Diz-me o que queres!
Diz-me o que devo fazer!
Não deixes que vão, não esperes
Não deixes a oportunidade desvanecer!”
Observando, num recanto,
Estava Atena, imponente e racional
Ignorando das “sereias”, o canto
Resistindo à tentação emocional.

“Afrodite!”, vociferou
A deusa da sabedoria
Pois sua mente se alarmou,
Para o que sua irmã despertaria.
“Não cries nas almas amor,
Pois se o rio não correr
Ouvirás longe o seu clamor,
Implorando, para que faças tudo perecer.”

“Oh minha irmã sapiente!
As almas feitas são para sentir.
E sossega! Toda a alma é contente
Quando por mim se deixa invadir.
Não há perigo, não há receio
Não há sustento à preocupação!
O seu oco ficará cheio,
Se erradicará a escuridão!”

“Erradicar-se-á a escuridão,
Preencher-se-á o interior,
Mas as almas abandonarão a razão
E a sua mente não terá valor.
O pensamento nato só irá despertar,
Quando a desilusão os invadir,
No momento em que a aliança se desfragmentar,
Quando o chão aos seus pés se abrir.”

A distância nos passeios decrescia,
As almas estavam-se a aproximar,
O tempo do encontro diminuía,
Estava perto o cruzamento do olhar.
Citereia, insuflada de vontade
Pediu a Eros para apontar,
A flecha da benigna mortandade,
A linha do novo fado a traçar.

(Continua...)

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