segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Surge!

-Homem! Homem! Levanta-te! - disse uma voz em tom imperativo.
Reage que são horas! Estás a ouvir-me? Forma-te! - continuou.
Da terra, começou a formar-se um ser, começou a sair da lama um corpo com formato humano. Ganhou forma; cabelos negros, olhos castanhos, corpo de jovem, robusto, alto, lábios grossos, nariz com uma pequena lomba ao meio, cara redonda, magra; tinha aparência de 27 anos. Levantou-se do chão, sacudiu um pouco os braços e olhou à sua volta. Parecia não compreender o mundo, parecia não saber onde estava nem o que era. Mas achou estranho o que lhe ia na cabeça... tinha acabado de ser criado e já tinha um pensamento, uma história criada para si mesmo. Sentia as dores do passado e expectava algo do futuro. Como curioso, levantou a cabeça e perguntou:
-Quem és tu?
A voz respondeu:
-Tu sabes! Sou tu próprio.
Confuso, perguntou de novo:
-Eu próprio? És a minha consciência?
Retorquiu a voz:
-Não homem! Eu sou tu! Somos um só. Tu vives dentro de mim e eu perco a vida quando tu vives, e só a minha mente fala. Eu chamo-me António Ribeiro e tu és um dos meus refúgios. Chamas-te Pedro de França, e irás escrever muitas vezes por mim. Eu sou a mão e o corpo que escreve, tu és a inspiração e o dono das palavras. Terás a liberdade que eu não tenho e tens a missão de me libertar.
Questionou Pedro:
-Libertar-te de quê?
Finalizou António:
-É o que vais descobrir.

Pedro de França, in "Diálogos da minha criação"