segunda-feira, 13 de abril de 2015

-Pedro? Pedro? Pedro! Estás aí?
Ele estava desesperado a chamar por mim. Não lhe respondi logo pois não tive coragem. Não sabia bem o que lhe dizer, porque bem sabia o porquê de ele me chamar. No entanto, apesar de hesitação, respondi, porque sabia que precisava de mim.
-Diz-me. Aqui estou, podes falar.

Sabia que ia ser difícil falar nesta altura, ainda que as palavras fossem de apoio, as que tinha pensado eram as habituais, as que toda a gente dá.
-Já soubeste o que aconteceu?
-Já. Sabes que vi e vivi tudo aquilo que viveste desde a minha criação. Estive contigo todos os momentos, não te deixei. Não falei, é verdade, mas sabias que a minha presença te confortou apesar do silêncio e às vezes as palavras que são ditas pelo silêncio são as melhores para o nosso interior. Por mais que queira não há muito que eu possa fazer. Apenas posso estar do teu lado. 
O tom com que falei deixou-o pensativo. Ele olhou o horizonte no qual o sol se punha, e por entre aquelas ameixoeiras floridas, os raios penetravam os seus olhos como carinhos de pai. Olhou para cima de depois deitou os olhos ao chão. Entristeceu-se profundamente e gritou para dentro de si: logo, para mim.
-Foi tão cruel! Tão tão duro! Porquê a ele, porquê agora? Eu acreditei sempre que ele voltaria, feliz e saudável! SEMPRE!
Os olhos dele escorriam depois de dizer isto. Apenas me sentei no seu coração e disse:
-E ele voltou para ti. Ele voltou para casa, ele está aqui contigo! O corpo é apenas um instrumento que acreditas que o teu Deus te dá para caminhares aqui. Depois disso, depois desse corpo perecer resta o realmente importante: a alma. É essa alma que agora veio até aqui. Essa alma une-se à tua memória, às memórias que tens desse homem fantástico, desse teu avô que para ti foi um pai. As boas recordações fundem-se e o teu coração torna-se mais macio e surge-te um sorriso por saberes que enquanto viveu em corpo, viveu bem e feliz! Não desanimes. Apenas tenta sentir a alma dele. Ela está realmente contigo!
-Eu sei que está e eu sinto-o! Mas custa-me tanto subir a rua e acreditar que o vou ver sentado no banco cá fora, como se estivesse, todos os dias, à minha espera... E quando me via ao longe, soltava um sorriso, batia palminhas e eu sentia paz. Conseguia sentir que era amado realmente. Eu espero-o, ainda espero que ele volte, que chegue a casa! Espero chegar a casa e encontrá-lo, estou em casa e venho até cá fora, olho para a rua e espero que o venham deixar; anseio o seu abraço, anseio o seu sorriso, a sua alegria, o seu AMOR que sempre me soube dar da melhor forma possível: como um pai que foi. Quero que ele volte...

Depois disto fiz um pouco de silêncio. Deixei-o olhar para a rua, para a porta de casa... Deixei-o sentar-se naquela relva e chorar tudo, pois só depois eu poderia falar. Passaram-se um minutos e as lágrimas enxugaram-se. Aí eu sabia que era hora de eu falar.
-Eu sei e tenho a certeza que pelo resto da tua vida o vais esperar, que vais esperar a chegada dele... Mas isso é pacífico e bom. É um ato de amor eterno.
-Eu sei disso... Mas porque me dizes que é um ato de amor eterno?
- Digo-to com toda a certeza e volto a dizer-te: vais esperar que ele volte, todos os dias da tua vida. Se não esperasses a sua chegada, significava que ele tinha morrido dentro de ti; e isso sei que nunca irá acontecer.



Pedro de França, in "Diálogos da minha criação"