terça-feira, 3 de novembro de 2015

Estou recostado no meu leito, ao som de mais uma noite que passa para mim quase despercebida. Como passaram muitas outras antes desta e como irão passar muitas muitas outras daqui para a frente, certamente. O que diferencia é o "quase". Há sempre algo na noite, no dia que marca a diferença. 
Na mesinha de cabeceira está um relógio marcando números (ele, a prova do poder do homem sobre o tempo), um candeeiro aceso, uma chávena com chá morno de alguma coisa, pois não me dei ao trabalho de ver do que era; camomila, ou mesmo preto. Tenho também uma carteira com algumas moedas para o capuccino de amanhã, ou de depois de amanhã, não sei bem. Ou mesmo para um café, numa esplanada, marcada pelo escuro dos raios de sol que tentam penetrar pelos guarda-sois abertos. Está aqui tudo como ontem! Está também o pensamento, sempre sempre ativo, freneticamente estagnado no vento que não tem força para o alterar. Além do mais está um livro! DOIS! Pessoa e Allan Poe; luz e escuridão; venha o diabo e escolha! E depois o pensamento, que esteve, está e estará!
Depois o dia, um pôr-do-sol ou um amanhecer, conforme nos apeteça, que tenta mostrar que há oportunidades nos dias, nas horas, nos minutos e que nada de nada, nem uma respiração, nem um piscar de olhos são em vão. Mas são! Tudo é em vão pois tudo é fruto de um acaso que teima em estar justificado. Nada sabemos.
A vista teima em querer ver, em querer ser inflamada por imagem. A boca anseia por uma respiração forte ou por um roer de unhas para acalmar o nervosismo. Os ouvidos teimam em ouvir a chuva ou a música que silencia o barulho e que acaba por ser silêncio verdadeiro (e que ninguém deve nunca quebrar!). As mãos querem uma caneta e papel. O nariz quer o perfume de ambientador colocado estrategicamente por cima do relógio (tic-tac, tic-tac, tic-tac, infinitamente(até que se lhe não dê corda)) para cortar a dureza calmante do oxigénio. Mas se calhar não é bem isto que quer o nariz. Não importa, para agora passa despercebido. Se sair lá fora, irei encontrar uma inundação, uma verdadeira população de ausência. Os passeios estarão sem pés apressados, as ruas sem os coches motorizados, as luzes acesas para uma ausência que persiste em estar excessivamente presente. Mas eu estou aqui, aqui onde estou todas as noites, aqui onde com tinta sujo todos os dias um novo papel, onde desgasto as teclas desta máquina. E o que encontrei! O meu pensamento de novo! Pensei que se tinha perdido, sabendo sempre que estava bem aqui. E na mente o que se passa? Muita coisa que nem sei bem especificar ao certo. E lá fora há tempestades! Lá fora o vento sopra, acarinhando as árvores outonais, a chuva lava os terraços marcados por várias vidas e lava o próprio céu, lavando os pensamentos que se elevam pelos ares na penumbra da noite que não cessa. E cá dentro também as há! Mais um vez a cabeça teima em pensar, com uma velocidade alucinante. E há trovoada ainda por cima! Tudo à mistura, como deve ser uma boa, muito boa tempestade! A verdadeira tempestade elétrica!

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